JANO
Gosto
muito dos sentimentos que fim de ano e começo de Janeiro me dão. Fazemos
promessas e lembramo-nos daquelas que não fomos capazes de cumprir por diversos
motivos. Lembramos e imaginamos coisas mil. É aquele período em que somos
postos entre o que fizemos no ano que passou e o que faremos no ano que se
mostra à nossa frente. Pensamos, planejamos e refletimos tudo o quanto passamos
e queremos passar, ponderando aquilo que desejamos e aquilo que alcançamos. Eu
realmente gosto desse clima.
Jano era
o deus das portas, dos começos, dos finais, observador e orador notório, além
do fato de ter duas faces, das quais uma, nova e jovem, olhava para frente e
uma, velha, que olhava para trás, apresentando uma perspectiva ampla de tudo o
quanto via. O mês de janeiro foi inspirado em seu nome (Ianuarius).
E como
isso me levou a pensar. Nesses tempos de virada, somos todos "Janos":
Olhamos para trás e vemos as dores, vemos as marcas, vemos as aventuras e as
conquistas feitas, e, perante nossos atos, erros e acertos, nos perguntamos os
motivos de agirmos como agimos e vemos se algo valeu mesmo à pena. Normalmente,
reparamos como tudo passou muito rápido.
Ganhamos
uma velha face, como a de um senhor de idade que vê fotos antigas e lembra-se
de quando, como e por quê aquelas fotos foram tiradas, além de lembrar-se de
como se parecia na época, como pensava e o que sentia.
Assim
como senhores de idade, lembramo-nos de como fomos felizes em alguns momentos
ou tristes em outros, lembrando ainda daqueles que ajudaram a tornar tudo isso
realidade.
Vemos o
quanto caminhamos e como os amigos, sejam os novos ou os de sempre, foram
importantes em nossa caminhada. Vemos passar diante de nós os momentos em que
precisamos de força para superar algumas coisas, e percebemos que, em muitas
vezes, tudo era uma "tempestade em um copo d'água" e, por fim, vemos
que fomos mais capazes do que nós mesmos imaginávamos.
Também
ganhamos uma face nova, que olha para frente, e contempla as 365 novas
oportunidades que um ano novo oferece. Imaginamos o que o tempo nos trará e se
realmente teremos tempo para fazer as coisas com as quais sonhamos. Traçamos
planos e metas, ficando desejosos, ou não, por um aniversário, por uma
oportunidade, por mais histórias, por mais coragem em determinadas situações ou
por um amor.
Olhamos
para o futuro e nos lembramos de que somos humanos, afinal, ser humano é
imaginar e fazer novos universos a partir do nada. É ser capaz de transformar
nossas realidades a partir de probabilidades nulas.
Enchemo-nos
de novas esperanças e de novos planos, e o ano que começa se torna algo
promissor. Um mundo de coisas acontece dentro de nossas mentes ao pensar nesse
assunto.
E assim
como o que acontece por dentro, gosto também de pensar no que ocorre por fora,
nas pessoas, no que sempre acontece nesses começos. Promessas são feitas em
grupo como "vou emagrecer" ou "vou ficar belo esse ano",
pratos especiais são feitos em nome da sorte e eventos à beira-mar são
concretizados nos primeiros momentos do ano em nome, também, da sorte. Ou
roupas brancas, ou uma variação delas, dependendo do que deseja no ano que se aproxima,
são vestidas, para quem sabe ter um pouco mais de qualquer coisa que são alvos
em comum. Além da "aposta do ano", que promete muito dinheiro.
Tudo em
nome de nós mesmos. Do "eu". Dinheiro, sorte, sucesso, prosperidade,
amor e muitos outros estão sempre no topo da lista de coisas a serem feitas no
decorrer de um ano. Isso sempre se repete e não é novidade.
Mas,
refletindo um pouco melhor, vejo como tudo se mostra um pouco egoísta.
Não digo
que desejar boas coisas para si mesmo seja algo ruim, porém, a grande pergunta
é: Como tudo isso afeta a mim e as pessoas que estão ao meu redor?
Desejamos
dinheiro, mas a primeira ideia, se ele vier, é sumir do mundo e gastar tudo em
si mesmo.
Desejamos
amor, mas nos esquecemos de gestos amorosos que poderíamos ter.
Queremos
sucesso, mas esquecemos do quanto tornamos o sucesso dos outros um caminho
difícil de trilhar.
É curioso
como, nos desejos, somos egoístas e todo ano a mesma coisa acontece: desejamos
coisas e não lutamos por elas, ou não tornamos essas coisas algo possível aos
outros. Sentamos e esperamos que nós, e somente nós, recebamos aquilo que
pedimos.
Não
acredito que as coisas funcionem assim.
Acredito
que um ano novo realmente nos ofereça novas oportunidades sim, mas novas coisas
também devem ser feitas. Quem sabe, abraçar alguém que precise, ou deixar de
lado o consumismo e ir visitar um parque durante um dia. Lembrar que outras
pessoas existem e que, às vezes, esperam apenas um "bom dia" ou um
"me desculpe" também pode ser algo de valor.
Deixar um
pouco os preceitos e preconceitos e rir com alguém que outrora parecia ruim.
Ser alguém melhor realmente, não só para você, mas para o mundo ao seu redor.
Vejo que muito se fala que o mundo não é gentil ou amoroso, e nesse final de ano uma das pedidas, na certa, é por um mundo melhor, mas que pouco é feito em nome disso. Olhe em um ônibus, metrô ou lugares públicos: pessoas mergulhadas em fones de ouvidos ou olhando a diferença de outros com olhares de juízes impiedosos, e são raros os que falam, e ainda mais os que puxam assuntos com pessoas diferentes.
Vejo que muito se fala que o mundo não é gentil ou amoroso, e nesse final de ano uma das pedidas, na certa, é por um mundo melhor, mas que pouco é feito em nome disso. Olhe em um ônibus, metrô ou lugares públicos: pessoas mergulhadas em fones de ouvidos ou olhando a diferença de outros com olhares de juízes impiedosos, e são raros os que falam, e ainda mais os que puxam assuntos com pessoas diferentes.
Somos
egoístas e esse é o motivo do mundo ser o que é.
Por fim,
que quero dizer com tudo isso?
Que não
só o ano nos traga boas coisas, mas que nós mesmos nos movamos em direção de
fazer algo de bom.
Que não
só queiramos amor, mas que demos amor.
Que não
só queiramos sucesso, mas que façamos coisas pelo sucesso alheio, e o que for
preciso para que outros sejam felizes.
Felicidade.
Esse é um bom objetivo e desejo de ano. Que seja de todos, por todos e para
todos. É uma roda, na qual não há começo, meio ou fim: fazer dos outros pessoas
mais felizes é também fazer a si mesmo. Ser feliz é humano. Humanidade, nunca
houve tanto sentido nessa palavra.
Que o ano
traga essa novidade, a diferença, a mudança, e que ela seja humana em todos os
seus conceitos.
Sorria
para alguém triste, cante músicas com aqueles que ama, repare os detalhes
daqueles que pedem um pouco mais de atenção. Faça as pazes. Seja mais
tolerante. Abrace mais. Ria mais. Odeie Menos. Consuma menos. Gaste mais tempo
vivendo boas histórias. Reclame menos do sistema, mas transforme-o. Dê alimento
a alguém que sente fome e se possível uma palavra que ajude. Pense um pouco
menos e faça um pouco mais, pelo mundo e por você. Sinta-se melhor e viva cada
dia como se fosse único.
E que sejamos, sempre, melhores que ontem e piores que amanhã.
Feliz, e muito feliz, ano novo.
E que sejamos, sempre, melhores que ontem e piores que amanhã.
Feliz, e muito feliz, ano novo.