Eu, como amante da
escrita e leitura, fiquei intrigado em como hoje as pessoas consigam transmitir
e receber informações de uma forma tão simples e rápida, e me perguntei: como
era antes?
Confesso que é um tanto difícil de
imaginar nossas vidas sem as quase sistemáticas atualizações de status no perfil das redes sociais,ou como
ficariam os passeios a parques e shopping, sem antes marcar todos os amigos que
você gostaria que fossem, e o que seria dos casais apaixonados, sem as milhares
de mensagens de texto trocadas em frações de segundo para dizer um “eu te amo”.
Nossa vida tem mudado desde essas coisas.
Como sempre gosto de fazer, fui perguntar
aos mais velhos: Como era quando você era mais jovem? Como se relacionavam?
Como diziam que amavam alguém? Acho que era um jeito um pouco mais legal do que
simplesmente jogar no google.
Bom, minha resposta foi um tanto triste.
Quando falei com minha avó — primeira fonte de pesquisa —, ela disse que não
teve muito tempo de se relacionar com as pessoas, exceto as que trabalhavam com
ela, que era até o caso do meu avô. "Eram tempos difíceis...namorar e ir a
bailes era um luxo". A vida nas fábricas nunca foi muito grata, sabe?
Já quando perguntei a minha mãe — outra fonte
—, a qual tinha passado por tempos melhores que o de minha avó, ela me contou
uma história, que ao contrário de minha avó, foi engraçada.
Ela, quando jovem, havia ganhado uma
máquina de escrever, e com aquela máquina — hoje o que muitos chamam de “geringonça”
— ela escrevia longas cartas perdidamente apaixonada por artistas, ou bandas, e
até para o que seria, futuramente, meu pai. Seus passeios, quando o dinheiro
dava, eram sempre para o mesmo lugar, e eram combinados com duas ou mais
semanas de antecedência, por meio dessas cartas. Ah! Aquilo me fez rir muito.
E nesse último
natal de 2012, algo parecido aconteceu comigo: ganhei justamente uma máquina de
escrever de um tio meu, que a tinha parada e jogada em um canto da casa. Não
foi bem um presente: insisti até que me desse!
Ninguém sabia muito daquela máquina, a
única coisa que se sabia, porque estava escrito em letras cromadas a frente era
sua marca: Royal. E todos que viram aquela coisa coberta de poeira, como
primeira reação, torceram os narizes. se foi de nojo ou para não aspirarem a
poeira é mistério que ficará para sempre. Mas eu a tinha em minhas mãos: uma
máquina de escrever legítima, manual, perfeita — pelo menos para mim.
Limpei-a com todo
o cuidado do mundo, ansioso para começar a usá-la quase que imediatamente. Meu
pai e minha mãe tiveram que me ajudar quanto ao uso e manuseio, afinal era um
objeto “fora da minha época”.
Minha curiosidade não foi somente até a
máquina mas pensei onde ela possivelmente tinha passado, quem tinha
usado e em que situações, e com que fins. Isso me consumiu uma noite inteira de
pensamentos cheios de entusiasmo.
E
é justamente aí que o passado e o presente ficam unidos entre si: tive que
fazer uma pesquisa caprichada na internet para saber de onde viera aquela
que, a partir daquele instante, seria minha companheira de escrita.
E foi grande a minha surpresa! Eu tinha em
mente que ela pertencia aos anos 80, época dos meus pais, mas não foi bem isso:
descobri que ela era do ano de 1954, ou seja 59 anos de idade.
Eu fui à loucura. Imaginei onde aquela
coisa tinha andado, e li em algum lugar que ela era a preferida de muitos
jornalistas, e famosa entre eles, e imaginem comigo: eram os anos de Guerra
fria, pensei que ela podia ter publicado os Discursos de Khrushchov, ou
a Revolução Cubana em 1959... Notícias que entraram para história!
Aquela máquina era exatamente o que eu sempre sonhei para meus
escritos, e que tive do "Tio" Noel: uma máquina pra fazer histórias,
que muita história já tem.
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