sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A máquina de fazer histórias

  Em eras de tablets, iPod's, iPad's e smatphones, tudo parece muito mais fácil, mais rápido, e pode ser feito cada vez com menos esforço. Compartilhamos informações e as achamos com velocidades recordes, tudo no alcance de um toque. Ok, mais um texto de quão rápida e incrível é a tecnologia e a sua capacidade de se melhorar numa velocidade incrível...mas meu foco vai um pouco além desse simples detalhe.
Eu, como amante da escrita e leitura, fiquei intrigado em como hoje as pessoas consigam transmitir e receber informações de uma forma tão simples e rápida, e me perguntei: como era antes?
Confesso que é um tanto difícil de imaginar nossas vidas sem as quase sistemáticas atualizações de status no perfil das redes sociais,ou como ficariam os passeios a parques e shopping, sem antes marcar todos os amigos que você gostaria que fossem, e o que seria dos casais apaixonados, sem as milhares de mensagens de texto trocadas em frações de segundo para dizer um “eu te amo”. Nossa vida tem mudado desde essas coisas.
 
Como sempre gosto de fazer, fui perguntar aos mais velhos: Como era quando você era mais jovem? Como se relacionavam? Como diziam que amavam alguém? Acho que era um jeito um pouco mais legal do que simplesmente jogar no google.
Bom, minha resposta foi um tanto triste. Quando falei com minha avó — primeira fonte de pesquisa —, ela disse que não teve muito tempo de se relacionar com as pessoas, exceto as que trabalhavam com ela, que era até o caso do meu avô. "Eram tempos difíceis...namorar e ir a bailes era um luxo". A vida nas fábricas nunca foi muito grata, sabe?
Já quando perguntei a minha mãe — outra fonte —, a qual tinha passado por tempos melhores que o de minha avó, ela me contou uma história, que ao contrário de minha avó, foi engraçada.
Ela, quando jovem, havia ganhado uma máquina de escrever, e com aquela máquina — hoje o que muitos chamam de “geringonça” — ela escrevia longas cartas perdidamente apaixonada por artistas, ou bandas, e até para o que seria, futuramente, meu pai. Seus passeios, quando o dinheiro dava, eram sempre para o mesmo lugar, e eram combinados com duas ou mais semanas de antecedência, por meio dessas cartas. Ah! Aquilo me fez rir muito.
E nesse último natal de 2012, algo parecido aconteceu comigo: ganhei justamente uma máquina de escrever de um tio meu, que a tinha parada e jogada em um canto da casa. Não foi bem um presente: insisti até que me desse!
Ninguém sabia muito daquela máquina, a única coisa que se sabia, porque estava escrito em letras cromadas a frente era sua marca: Royal. E todos que viram aquela coisa coberta de poeira, como primeira reação, torceram os narizes. se foi de nojo ou para não aspirarem a poeira é mistério que ficará para sempre. Mas eu a tinha em minhas mãos: uma máquina de escrever legítima, manual, perfeita — pelo menos para mim.
Limpei-a com todo o cuidado do mundo, ansioso para começar a usá-la quase que imediatamente. Meu pai e minha mãe tiveram que me ajudar quanto ao uso e manuseio, afinal era um objeto “fora da minha época”.
Minha curiosidade não foi somente até a máquina mas pensei onde ela possivelmente tinha passado, quem tinha usado e em que situações, e com que fins. Isso me consumiu uma noite inteira de pensamentos cheios de entusiasmo.
         E é justamente aí que o passado e o presente ficam unidos entre si: tive que fazer uma pesquisa caprichada na internet para saber de onde viera aquela que, a partir daquele instante, seria minha companheira de escrita.
E foi grande a minha surpresa! Eu tinha em mente que ela pertencia aos anos 80, época dos meus pais, mas não foi bem isso: descobri que ela era do ano de 1954, ou seja 59 anos de idade.
Eu fui à loucura. Imaginei onde aquela coisa tinha andado, e li em algum lugar que ela era a preferida de muitos jornalistas, e famosa entre eles, e imaginem comigo: eram os anos de Guerra fria, pensei que ela podia ter publicado os Discursos de Khrushchov, ou a Revolução Cubana em 1959... Notícias que entraram para história!
Aquela máquina era exatamente o que eu sempre sonhei para meus escritos, e que tive do "Tio" Noel: uma máquina pra fazer histórias, que muita história já tem.

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